O HOMEM
Meu pai se foi à mais de 40 anos, com 56 anos de idade, e ainda sinto no meu coração uma reserva de
amor e saudade.
Acredito que quando as pessoas boas morrem cedo, elas já tem um lugar reservado junto ao Criador.
Meu pai, sempre foi um homem bom, de caráter, e gostava das coisas nos seus devidos lugares.
Quando a gente tinha algum problema, meu pai procurava orientar o caminho da solução, mas nunca
ofereceu a solução!
Meu pai, com quem aprendi a viver, meu velho amigo e conselheiro, orientou-me o caminho que segui
durante toda a minha vida. Assim hoje eu sei bem o papel que me cabe porque aprendi as diretrizes segu
ras que meu pai me ensinou.
O LAZER DO MEU PAI
Quanto ao cotidiano,meu pai era um fã ardoroso do artesanato, principalmente aquele que antigamente se fazia com barro(argila).
Hoje em dia, esse tipo de artesanato ainda é praticado, porém com mais intensidade nas cidades do nordeste.
Uma vez vi meu pai lendo um livro que versava sobre o mistério das estátuas gigantes da Ilha de Páscoa. Uma
semana após o término da leitura, percebi uma movimentação no seu pequeno ateliê no fundo do quintal da
casa onde morávamos, na Vila Pompéia, e vi estarrecido que meu pai havia modelado em argila, o busto de
algumas daquelas estátuas, com uma perfeição que não tenho como descrever. Dessa maneira, meu pai se
lançava ao artesanato, criando figuras em barro, as vezes presenteando parentes e amigos que agradeciam
encantados.
Outra lembrança muito marcante das perípécias do meu pai, foi a construção de um orquidário completo
nos fundos do quintal de nossa casa, onde ele podia deleitar-se com o perfume e os maravilhosos tipos dessa
planta, criando inclusive espécies novas através de enxertos que fazia com maestria.
Ainda, como recordação de meu pai, lembro-me dos passeios que fazíamos ao Parque da Água Branca, e ao Gasômetro no bairro do Brás.
No Parque da Água Branca, porque meu pai era um amante da natureza, e lá deliciava-se com as flores
de diversos tipos e procedências, além da oportunidade de apreciar uma infinidade de pássaros, peixes
e alguns animais que eram expostos, como se estivessemos num zoologico. Naquela época o Parque
da Água Branca, também chamado de Parque Fernando Costa, era local de lazer e entretenimento para
a população de S.Paulo, onde aconteciam feiras de gado, exposições de plantas das mais diversas espécies.
No Gasômetro, o passeio tinha um objetivo básico. Como eu e meus irmãos haviamos tido coqueluche,um tipo de tosse convulsiva, bastante forte, fomos aconselhados pelo médico da época, que deveríamos respirar
o ar do Gasômetro pois o mesmo estava impregnado de certas substâncias do gás que faziam milagres para
os problemas pulmonares causados pela tosse comprida e coqueluche! Uma coisa eu posso afirmar catego
ricamente. - Eu e meus irmãos saramos da tosse! Parece incrível mas é a verdade!
Para quem nunca ouviu falar do Gasômetro, apenas para ilustrar, era um complexo que se tornou parte da
história de S.Paulo, hoje desativado, fica na Rua da Figueira , no Brás, foi totalmente restaurado pelo Patrimônio Histórico de S.Paulo, e lá permanece apenas como museu para visitação pública. No passado,
lá pelos idos de 1930, foi a localidade onde funcionou a sede da SAN PAULO GAS COMPANY LTDA,
construída para alimentar a iluminação da cidade de São Paulo, que no final do século XIX, era a querosene.
UMA HOMENAGEM
Agora, voltando a homenagem que faço a meu querido pai, quero enfatizar que hoje ainda, sinto muita falta
dele, do seu modo de encarar a vida, do seu sorriso, das suas gargalhadas, do seu olhar de empolgação quando via sucesso nos meus empreendimentos.
Acho que enquanto ele era vivo, eu nunca consequi exprimir o que sentia , o grande orgulho de tê-lo como
pai, àquele que sempre esteve ao meu lado, em todas as circunstâncias, defendendo, entendendo,assimilando
as minhas aspirações e os meus percalços.
Hoje pai, onde você estiver, quero dizer que sempre senti a sua presença marcante ao meu lado iluminando o meu caminho e aparando as arestas e obstáculos da minha vida. Um dia, se Deus permitir, estaremos juntos novamente para colocarmos em dia as nossas conversas que pelas circunstâncias do destino, não puderam ter continuidade no passado.
Um grande beijo pai.
HAMILCAR MARQUES - 14/08/2011