segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

ENSAIOS POÉTICOS - HAMILCAR MARQUES

VALEU A PENA
Valeu a pena esperar para amar
Valeu a pena amenizar e deixar passar
Valeu a pena lutar e se levantar
Valeu a pena enfrentar sem se alterar
Valeu a pena encarar a solidão sem par
Valeu a pena suspeitar sem se machucar
Valeu a pena viver pr'a contar de remanso
já que a vida nos deu de tudo e no entanto
o que ela pode dar e não exigiu com pranto,
um dia ela vai cobrar num momento e tanto
mas se valeu a pena esperar é o desafio agora
sem nos preocupar com o que passou outrora!


HOJE É DIA DE TENTAR
Hoje é dia de tentar
sanar as máguas
Hoje é dia de tentar
rever as causas
Hoje é dia de tentar
fazer poesia
Hoje é dia de tentar
ter harmonia
Hoje é dia de tentar
ter simpatia
Hoje é o dia de tentar
ter alegria
Hoje é o dia de tentar
cantar canções
Hoje é o dia de tentar
rever emoções
Hoje é o dia de tentar
matar o tempo
Hoje é o dia de tentar
barrar o vento
Hoje é o dia de tentar
ter a certeza de que 
a chuva tem sua hora
de cair e ir embora,
como a garôa de outrora
à noite,à tarde, na aurora!

AMANHÃ É DIA
Amanhã é dia
de alegria
sem nostalgia
Amanhã é dia
de amar
no singular
Amanhã é dia
de desafio
sem arrepio
Amanhã é dia
de inspiração
neste verão
Amanhã é dia 
de passear
e amenizar
Amanhã é dia
de amizade
e lealdade
Amanhã é dia
de verdade
e realidade
Amanhã é dia 
de prestante
exultante
Amanhã é dia
de saudade e
liberdade
Amanhã é dia 
de natureza
que beleza!


CAMINHO DAS PEDRAS
Surgem as pedras no caminho
para que possamos ativar a nossa fé no Criador.
A nossa capacidade é testada com luta e sofrimento
sem que desanimemos com os fatos de amanhã.
Sempre que houver indiferença, pensemos que haverá 
certamente um tempo melhor que sanará as nossas 
aflições e medos.
Basta que vivamos o dia a dia com esperança
de um porvir além da nossa lembrança.
O sol nasce todo o dia
queiramos ou não na teoria
mesmo quando continuamos adormecidos
sonhando sonhos nebulosos, coloridos
sonhando sonhos de paz que nos fazem ver
que não estamos sós ao resolver.
O maravilhoso é ver o sol surgindo no poente
num dia claro e o mar com tanta calma
espalhando a sua espuma indiferente
como lágrimas respingando numa palma.


HAMILCAR MARQUES  - ENSAIOS - 21/02/2011.





terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

ADOLESCÊNCIA – MEUS 12 ANOS.

É difícil descrever aquilo que tantos anos faz para lembrar! Grão a grão, como quando escolhemos o feijão, vamos relembrando fatos passados que tantas boas recordações nos trazem. Essa é uma crônica que alegraria muito a minha mãe, se caso ela estivesse viva.
Mas, mesmo morta, tenho certeza que seu espírito de luz estará lembrando esses fatos deixados no tempo dos meus  doze  anos vividos, sofridos, aproveitados da melhor maneira que um jovem na década de quarenta poderia aproveitar.
Na minha adolescência, comecei cedo a trabalhar.  Sucumbi ao trabalho, por razões óbvias para um garoto aos 12.
Namoradinhas, dinheiro, roupas novas eu gostava e muito, cartões de crédito não existiam. Dessa forma, iniciei minha labuta na fábrica de calçados do meu avô, que na época era administrada pelos meus tios, pois meu avô querido já havia falecido.
A experiência que meu pai me fez passar, viajando sozinho num bonde camarão aos 8 anos, começava a surtir o efeito desejado.
Eu já  conhecia a cidade de S.Paulo, parte a pé e parte viajando nos bondes e outros transportes coletivos.   Assim, não foi difícil para mim me tornar um “office boy” do escritório dos meus tios que ficava na Rua Rego Freitas, no famoso Largo do Arouche.
Cedo, lá ia eu para o trabalho, pegava os documentos, duplicatas, pacotes de entrega, e outros, e partia para o centro  bancário, onde  desenvolvia minha labuta diária, até.... com certa perfeição.   Quando voltava, lá pr’o meio dia, o sol já estava a pino, e eu, praticamente já tinha realizado a contento meu trabalho de rua.
Daí, ia  almoçar , geralmente, com minha avó em sua casa,  que ficava no âmbito da fábrica.  A fábrica, com diversos oficiais de sapataria, cortadores,pespontadeiras,etc.,  chamava-se  Casa Irene.
Era uma fábrica basicamente especializada em calçados de Ballet Clássico, e o segredo que vinha desde a construção da manufatura, estava na ponta dura dos calçados que atendiam os objetivos de diversas bailarinas da época, famosas como Maria Olenewa, do corpo de baile do Teatro Municipal.
Além disso meu avô Achilles Fornazari,quando vivo, confeccionava também as fôrmas dos calçados com máquinas que havia importado da Alemanha e Itália.
Produzia também  tipos de calçados para passeio, sob medida, feitos a mão, masculinos e femininos, todos com o melhor  couro da época em geral importados, como a pelica italiana, o cromo alemão,etc.   Puro artesanato que meu avô havia desenvolvido ao longo dos anos, com a ajuda de meu pai que era, pode se dizer, o “designer” dos pés dos fregueses para confecção das fôrmas, e de um tio irmão do meu pai que era o cortador do couro para a confecção dos calçados.
É importante dizer que tanto meu pai como meu tio ajudavam na fábrica  como um bico, nas horas de folga nos dias úteis e, nos sábados e domingos.   A incumbência do meu pai, era um tanto trabalhosa e complicada, pois exigia uma certa habilidade para cálculos de uma fórmula um tanto complexa que envolvia tomar as medidas exatas dos pés dos fregueses,
e depois transferir esses dados para o papel, com cálculos e mais cálculos,usando uma máquina simples de calcular, uma régua de cálculo e pronto, esses seriam os dados que seriam inseridos nas máquinas para confecção das fôrmas.                                                   Esse trabalho de desenho incluia não só os pés normais, mas também os pés defeituosos, com calosidades  e outros males como a joanete(bolsa serosa recoberta de pele espessada), o esporão, etc.
Cheguei a presenciar fatos com determinadas freguesas que já não podiam caminhar devido aos males dos pés, e que após a confecção do sapato adaptado logicamente àquele pé doente, agradeciam meu avô como se aquilo fosse um milagre!                      
Acredite se quiser, elas saiam andando da loja do meu avô, sem dor nem qualquer incomodo!
Posso contar esses fatos, porque apesar da minha tenra idade,   me fazia sentir  um grande orgulho pelo trabalho do meu pai, dos meus tios e do meu avô.
A casa onde estava instalada a fábrica era muito grande. Na frente, meu avó adaptou a loja onde recebia as freguesas, e era também o local onde eram tiradas as medidas dos calçados.
A partir da loja nos fundos, meu avô havia transformado a casa em residência até uma parte do imóvel onde ficavam os quartos de dormir, sala de jantar, sala de estar e por fim a copa/cozinha onde minha avó Maria passava a maior parte
do dia. A partir daí já no quintal da residência, meu avô construiu a fábrica propriamente dita, um grande galpão que abrigava os oficiais de sapataria e o maquinário em geral, e , no final do terreno à mais ou menos 10 metros atrás do galpão meu avô construiu um pequeno pasto, onde colocou pequenos animais, um galinheiro, um viveiro, uma pequena horta onde exercia o seu lazer nos finais de semana.
Debaixo da casa, como em quase todas casas térreas daquela época, havia um porão que se estendia por todo o imóvel, e
se constituía, na realidade, de verdadeiras salas habitaveis, já não me lembro quantas,  um pouco úmidas é verdade, mas
que abrigavam pessoas de até 1,80 metros  de altura.     Numa das salas, talvez a  mais umida, meu avô havia construído
uma adega.  Todos os barris de carvalho com vinhos importados, os melhores, tintos, brancos, espumantes, moscatel, enfim uma....deliiiiiiiiiiiicia!   Pendurados no teto de madeira, frios em geral, salames mortadelas, e outras guloseimas alguns
feitos pela minha  avó Maria como chouriço (salame de porco,cujo recheio era misturado com sangue e curado ao
forno) outra delícia!!.....  e linguiças de diversos tipos, além de alguns tipos de picles(legumes conservados em
vinagre branco).Tudo isso meu avô conservava em sua ADEGA, que nos finais de semana era visitada constante
mente.                                                                                                                                                                                    Essa é  a parte da minha história até os 12 anos, pelo menos o que nos meus 71 anos consegui lembrar.
Essa parte da minha vida  está calcada naquilo que acreditava ser a adolescência uma época de imaturidade em  busca da maturidade.   Periodo em que me senti adulto,   não somente quanto ao peso ou altura,  mas na capacidade de raciocionar,  na força física e,   na evolução da minha personalidade.
Finalizando, foi uma extraordinária etapa da minha existência onde  descobri  a minha identidade.
Muito ainda terei a contar sobre a minha puberdade, mas hoje fico por aqui nos meus felizes 12 anos. Até breve!!

HAMILCAR MARQUES -  16/02/2011.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

MINHA MÃE

Imaginando-a no passo apressado
Junto à janela aberta do quarto
Com voz suave  nunca se deteve
Fartura ou  pobreza nunca teve
Obstáculos tantos  atravessou
Vendo os sinais da vida que passou
Os caminhos do amor e da ternura
Mão protetora na cabeça com candura
Trabalhou e muito em sua grande lida
E ainda com tempo para amar a vida
Beliscões carícias afagos um beijo
Nas noites mal dormidas um lampejo
Esperando a semente germinar
Nove meses de angustia a terminar
Crescendo e vendo o filho a se criar
Manhãs de silêncio onde tudo era amor
A paz e o leite brotando do seio em flor
Pr’a boca do filho engolir sem pranto
E que sugava rápido e sem espanto
Esse é o seio da mãe amada onde estamos
Do ventre dela saímos no seio dela ficamos
Casados, solteiros, divorciados, em vão
Dentro de um coração imerso em paixão
Acomodados sempre em seu coração
Talvez não tenhamos ainda imaginado
Por mais que se descreva o inusitado
A palavra é mãe, trocando palavras é ame
Amor puro, nada impede que se inflame
Sabe... e....como  - compreender a  vida
Pois ela mesmo no seu ventre, que se clame
a criou serenamente,  com emoção contida.

HAMILCAR MARQUES  - 06/02/2011.