Ela era alta, magra mas esbelta, olhar penetrante e lábios finos, um porte de princesa, algumas jóias e pouca maquiagem para realçar os olhos negros e os cílios reluzentes.
Corpo violão, a saia colada que realçava toda sua beleza, ela vinha gingando pela rua atordoando quem passava, fosse homem ou mulher.
Sua sensatez demonstrava o poder de persuasão em cada passo dado, sem pressa e com tranquilidade nunca
vista. Era linda demais e sabia disso, fazia frente às candidatas a miss face aos seus predicados. Provocante e insinuante sem par nos saltos altos.
Da janela de minha casa, deparei com aquela criatura mágica que passava, e com o meu olhar seguia-a passo a passo até que ela virou a esquina e se foi.
Passei o resto da noite só no meu quarto, a porta entreaberta, pensando naquela miragem de mulher.
As pessoas na rua passavam e eu não conseguia conciliar o sono pois minha mente estava voltada totalmente naquela mulher que eu havia visto. De repente, não posso garantir que estivesse dormindo ou acordado, comecei a sentir a presença cada vez mais perto daquela criatura , - agora me encarando!
A seguir, ela começa a falar frases desconexas, eu tento iniciar um diálogo mas ela se esquiva com um ar de pânico. Fico sentado em contemplação, o quarto em minha volta.
Ela se vai em silêncio, olha-me e deixa cair um xale vermelho, e não me dá oportunidade de alcançá-la para devolvê-lo. Fico em transe, chocado com a aparição! Não consigo, por mais que me esforce, lembrar se estava adormecido ou acordado! No outro dia, lembro-me vagamente do seu olhar fixo no meu, da brancura da sua pele e da sua beleza sem precedentes. - Não sei seu nome nem onde mora, mas penso nela o tempo todo.
- Eis que o telefone toca, atendo apressado e ouço sua voz maviosa dizendo oi, radiante do outro lado da linha. Fiquei mudo, sem ação durante alguns segundos e depois, como numa reação automática disse oi também. Perguntei o porque dela ter desaparecido tão rapidamente do meu quarto, esqueci-me até de perguntar como ela havia aparecido. Ela respondeu que estava apressada porque tinha um compromisso com a vida, disse-me também que seu nome era Serena e que me conhecia a muitos e muitos anos. Informei sobre o xale vermelho e ela não respondeu. Senti um grande arrepio, não sabia o que falar, nem tampouco disfarçar. Frente a frente, reparei que ela estava como sempre linda, agora num vestido vermelho, era uma
fusão de sentimentos, uma química, na verdade uma explosão de emoções numa tarde de céu azul escuro sem nuvens, e o sol se pondo devagarinho.
Os dias foram se passando, ela já fazia parte da minha existência pois todos os dias vinha ao meu quarto de
solteiro. Nunca quis levar de volta o xale vermelho, acredito que ela o deixou como um suvenir!
Já estava acostumado a essa visão diuturna dos acontecimentos quando, - derrepente, mais que derrepente, ela surgiu do nada, segurou minhas duas mãos e exclamou em pranto. - Hoje tenho que partir, esse será o nosso encontro derradeiro! Beijou-me carinhosamente no rosto, e assim , como uma brisa, foi desaparecendo pela porta de meu quarto acenando para mim num gesto de adeus. Do lado de fora, uma pessoa de branco a esperava, não dava para discernir se era um homem ou uma mulher, apenas um vulto.
Aos poucos, pela rua ao entardecer, a penumbra tudo encobriu e eu nada mais vi. Foi uma cena dantesca, perdi Serena, esse foi meu último pensamento! Senti muito aquele momento de despedida, tão rápida, sem change de confissões e manifestações de afeto.
Agora, voltando a realidade , concentrando-me nos meu botões, peguei o xale vermelho que ela havia deixado, caido sobre a minha escrivaninha, ao lado da minha cama, e ao acariciá-lo, notei que algo dele se desprendeu como por encanto. Era um bilhete, onde ela com palavras ternas dizia, que um dia me encontraria para que pudessemos continuar a nossa caminhada.
HAMILCAR MARQUES - 07/03/2011
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