O tempo passou mas não apagou as
lindas lembranças das festas juninas, da minha infância querida.
Já fui criança sim, e uma criança levada da bréca, mas
sem vícios ou maldade.
Nasci no bairro da Bela Vista, que para os
italianos era denominado Bexiga, um dos
tradicionais bairros de São Paulo.
Aos nove anos de idade, eu e meus irmãos mudamos para
a Vila Pompéia onde meu pai havia comprado uma casa térrea, e lá eu me criei.
O bairro era pobre, por volta dos anos 50, as ruas
todas iguais com muitas ladeiras, algumas calçadas com paralelelepipedos,
outras de terra batida como era a que eu morava.
Eram casas de um modo geral antigas mas amplas, com belos quintais e
jardins na frente, para a alegria do meu pai que passava os domingos ajeitando
as plantas e flores de sua preferência.
No mês de junho, as festas no bairro eram
marcantes.
Como a rua era de terra batida, as fogueiras eram
armadas no meio da via pública. Assim, durante os festejos batatas doces e
pinhões eram assados, e até as crianças experimentavam um pouquinho de quentão.
Nessa época, não havia proibição para soltar
balões, nem tampouco para correr atrás deles. E eu vivi esses momentos como
nunca!
Eu e meus amigos, meus pais e irmãos, à noite em
volta da fogueira nos divertiamos .
Alguns
pulavam a fogueira, outros tentavam passar pelo braseiro vivo com os pés
descalços, uma temeridade! Soltavamos balões, busca-pés e caramurus. Minha mãe
pintava bigodes com carvão em mim e em todos meus amigos.
Meu pai e minha mãe adoravam também essas
festividades e incentivavam eu e meus irmãos a gostarem também. Eram festas
sadias e tradicionais. Meus pais, nessa oportunidade, colocavam as cadeiras na calçada da rua onde moravamos e
organizavam uma festa de rua como poucas no bairro.
Tinha fogueira, fogos de artifício, quentão com
gengibre cravo e canela, pé de moleque, pipoca, batata doce e pinhão assados na
brasa viva da fogueira.
Tinha decoração com bandeirolas presas nos postes
de luz, e as pessoas que jogavam conversa fora... eram os vizinhos que aos
poucos iam chegando para bater papo, contar suas histórias e comer umas
iguarias.
Tinha um
tio que morava no Belenzinho numa casa linda e espaçosa que, no dia de São
Pedro, fazia uma grande festa junina onde todos os familiares eram convidados e
se divertiam a valer até altas horas da noite. Lá dançavamos quadrilha,
soltavamos balões de todos os tipos até os famosos chinesinhos que eram
vendidos pela tradicional Loja Ceilão no Centro de S.Paulo.
Às vezes essas lembranças corroem a gente de
saudade ao se aproximarem essas festas juninas, pois essa era uma época áurea,
não só no Bairro da Vila Pompéia onde morava, mas nas festas dos clubes e
quermeses onde participava com meus pais, vestido à caráter,de caipira.
Nas quermeses, gostava do jogo da pescaria, dos
maravilhosos quitutes, amendoim torrado na hora, pinhão, pipoca, pamonha, bolo
de fubá, quentão, etc.etc.
Assim, após essas maravilhosas recordações das
noites frias de junho, é meu desejo finalizar esta crônica cantarolando essa
música que estará sempre presente em minha memória:
“Ai que saudade que tenho
Da aurora da minha vida
Da minha
infãncia querida
Que os anos não trazem mais....
HAMILCAR MARQUES – 26/06/2012.