Hoje é dia de ir ao dentista com o meu carro. Que
problema!
Já havia um bom
tempo que não me deslocava até o bairro de Higienópolis.
Parece mentira, mas o trânsito anda caótico em todos os
sentidos. São Paulo só é transitável
hoje em dia, nos feriados prolongados ou nos finais de semana, caso
contrário, haja paciência para enfrentar esse trânsito infernal. Mas, se formos
ao âmago da questão, chegaremos à conclusão que esse trânsito é fruto de três
problemas básicos que vem ocorrendo no Brasil, em grandes metrópoles como São
Paulo.
O primeiro é a falta de estrutura de nosso transporte
coletivo urbano, a péssima conservação dos ônibus de algumas companhias
que operam na grande São Paulo.
No passado, já fiz uso durante muitos anos do transporte
coletivo e nessa época, por volta dos anos 60, esse sistema era bastante
razoável.
Hoje em dia, os ônibus urbanos mais se parecem com latas
de sardinha. É um total desrespeito ao público pagante, que além de viajar horas
em pé, carecem de qualquer conforto. Os veículos são mal ventilados, as pessoas
sofrem excesso de calor e total falta de segurança. Quanto as mulheres, sofrem
todos os tipos de abusos em nosso transporte coletivo, seja nos ônibus, ou até
mesmo nos trens de subúrbio. No tocante às mulheres grávidas nem se fala! A
falta de respeito é total. Ninguém se digna a oferecer seus lugares para sentar
e para justificar esse lamentável fato os marmanjos fingem dormir.
Algumas pessoas dizem que os velhos apreciam se
vangloriar do passado! No entanto, às vezes, temos saudade desse passado nos
transportes urbanos.
Naquela época, havia respeito para com os deficientes,
idosos e mulheres grávidas aonde quer que fossemos! Bastava um idoso subir num
ônibus para que, de pronto, as pessoas gentilmente oferecessem seus lugares.
Hoje o transporte coletivo é uma selva, além de caro é
inadequado, veículos sujos, com mau cheiro.
Os motoristas e cobradores mal preparados, não recebem treinamento
adequado quanto a educação e cidadania.
Assim, o segundo problema, consequência do mal funcionamento
do transporte coletivo, é o volume de carros particulares nas ruas e avenidas
de São Paulo.
As pessoas que tem carro não o deixam na garagem de casa
para usar o transporte público. Esse é ineficiente e ninguém quer se sujeitar a viajar espremidas dentro de um
veículo horas a fio. O Metrô seria para São Paulo, o meio
de transporte mais eficaz, rápido e econômico como havia sido idealizado.
Infelizmente não funciona tão bem como poderia ser! Foi o saudoso Prefeito
Faria Lima que teve a ideia de implantar o Metrô na cidade de São Paulo, lá
pelos idos de 1966. Assim, depois de marchas e contra marchas, estudos e mais
estudos, concorrências diversas, foi criado um consórcio que deu início às obras
em 1968. Os demais prefeitos que o sucederam
foram levando a obra do Metrô adiante, alguns de forma mais lenta , outros de
forma mais dinâmica.
Mas a cidade como era esperada, cresceu. Expandiu-se o
comércio e a população que era de aproximadamente 11.300.000 habitantes em
1968, hoje remonta a cifra de mais de 20 milhões de habitantes. Muitas linhas
do Metrô foram criadas para atender a população sofrida desta grande cidade. No
entanto, hoje já temos problemas com esse meio de transporte também.
Vagões lotados, pessoas de pé, fazendo inúmeras
baldeações para chegarem aos seus destinos, atrasos nos horários das
composições. Esse transporte, hoje não é
barato!
Como foi planejado na época por Faria Lima, o Metrô teria
tudo para ser o meio de transporte do futuro, com alta capacidade de massa,
rápido, seguro, melhorando altamente a qualidade de vida da população desta
grande metrópole, reduzindo o tempo de locomoção e certamente tiraria das ruas
um grande número de carros particulares, desafogando o trânsito caótico. Infelizmente
não é isso que vem ocorrendo, se nos basearmos nas notícias recebidas todos os
dias através da mídia impressa e falada sobre os problemas que se
avolumam no Metrô paulista.
Voltando agora ao que eu dizia no início desta crônica, toda
vez que vou ao dentista, perco em média duas longas horas no trânsito usando
condução própria. No meu caso, fica mais fácil e tolerável a demora, uma vez
que sendo aposentado não dependo de horário. Entretanto, para as pessoas que
dependem de horário o problema se torna insustentável. Mas, sem querer ser negativista, o trânsito em São Paulo deverá se tornar
caótico, nos próximos dois anos.
Esse é, portanto
o 3º problema
que não só São Paulo enfrentará num futuro próximo, mas todo o Brasil, o excesso de carros particulares nas
ruas, atravancando o trânsito e causando congestionamentos.
Isso porque, todos os dias as montadoras de veículos
despejam no mercado milhares de veículos novos, financiados até em 60
prestações, sem entrada, sem mais nada, e ainda pagam o IPVA do comprador. Com
essas promoções, e ainda, o incentivo do governo com a redução do IPI, grande
parte da nossa classe média se lança nessa aventura, primeiro pela oportunidade
de ter um carro novo ,e segundo com a ilusão de que chegará mais rapidamente ao
seu destino, sem depender do transporte coletivo. As campanhas para deixar o
carro em casa, sempre foram um engodo! Assim, vemos mais carros nas ruas,
somados aos ônibus, motos, vans, bicicletas, carretas e até caminhões.
E quem sofre com tudo isso é o povo estressado, sem
paciência.
E agora, o governo acaba de oferecer incentivo às
montadoras estrangeiras que desejarem instalar suas fábricas no Brasil
utilizando mão de obra e matéria prima nacional. Acharia essa iniciativa louvável, se os governantes
estivessem procurando resolver os problemas do povo. Entretanto, nada vemos em
termos de restruturação dos transportes de massa a não ser promessas jamais
cumpridas. E o trânsito cada vez mais estressante, sempre congestionado,
cansativo, violento e sem solução.
Desta forma como está, o transporte e os
congestionamentos causam danos à saúde pela rotina das grandes cidades como São
Paulo, pioram a qualidade de vida e do ar e diminuem a sensação de bem estar
dos cidadãos diariamente. AONDE IREMOS
PARAR com tudo isso? Certamente pararemos sim nos congestionamentos,
sujeitos inclusive a assaltos e um dia estaremos enfrentando UM DIA
DE FÚRIA, como ocorreu no filme protagonizado por Michel Douglas a
alguns anos atrás!
CRÔNICA ESCRITA POR HAMILCAR MARQUES EM 02/03/2012 E EDITADA EM 11/11/2012.